A Mente e o Caminho para o Silêncio Interior
- Raquel Silva
- 20 de fev.
- 4 min de leitura
No primeiro fragmento de A Voz do Silêncio, Helena P. Blavatsky apresenta um dos ensinamentos fundamentais do caminho espiritual:
A Mente é a grande assassina do Real.
Esta frase poderosa aponta para a forma como os pensamentos incessantes podem distorcer a nossa percepção da realidade e impedir-nos de ouvir a verdadeira sabedoria interior. Mas o que significa realmente esta afirmação e como podemos aplicá-la à nossa vida?
A Jornada Espiritual e a Maturidade Necessária
As instruções apresentadas nesta obra não são totalmente aplicáveis à nossa vida quotidiana, pois podemos ainda não ter a maturidade espiritual para viver desta forma. No entanto, é sempre útil conhecer a direção do caminho. Para as crianças saberem para onde vão, devem conhecer a vida da pessoa adulta. A transição da infância para a adultez depende dos nossos esforços. Ao conhecer a vida adulta, começamos a aspirar por ela, e essa aspiração ajuda-nos a avançar. Também é assim com o caminho espiritual. Para uma criança, vislumbrar uma vida sem brincadeira pode parecer triste; no entanto, para a pessoa adulta madura, ao longo do crescimento e desenvolvimento, os interesses transformam-se e surge uma nova maturidade – viver sem brincar já não é o tédio que parecia na infância!
O truque para estudar esta obra é encará-la como um roteiro para conhecer o que está mais à frente na vida espiritual. Assim, quando chegamos a um ponto nas nossas vidas em que as coisas do mundo material deixam de exercer o fascínio ou interesse que antes tinham, esta obra ajuda-nos a compreender o que nos está a acontecer e propõe um mapa e uma senda para os passos seguintes. Se esta obra lhe parecer desafiante, encare-a como uma criança que escuta e aspira a chegar à vida adulta.
Os Perigos do Caminho Psíquico
Estas instruções são para quem desconhece os perigos dos Iddhi inferiores.
No caminho espiritual, desenvolvem-se poderes psíquicos, mas há pessoas que ficam estagnadas nesta fase, deslumbradas por estas capacidades. Na visão Teosófica, o mundo psíquico não é o mundo espiritual, mas sim um plano intermédio entre o material e o espiritual. O mundo psíquico é considerado ainda parte do mundo material; assim, os poderes psíquicos fazem parte dos sentidos físicos, estando, portanto, no reino da ilusão e da ignorância.
Os poderes psíquicos não são errados, mas permanecer nesse nível é como ficar retido na adolescência. O verdadeiro caminho espiritual transcende estas experiências e conduz ao reino da Verdade.
A Ilusão da Mente
A nossa mente está constantemente ativa, analisando, julgando e interpretando tudo o que vivemos. No entanto, muitas vezes, essa atividade mental é dominada por padrões automáticos, crenças limitantes e distrações que nos afastam do momento presente. Quando estamos absorvidos pelos nossos pensamentos, reagimos mais do que escolhemos conscientemente. Isso pode criar sofrimento, ansiedade e uma sensação de desconexão com a essência mais profunda do nosso ser.
Blavatsky ensina que a mente, quando não treinada, obscurece a verdadeira realidade. O "Real" que ela menciona não é o mundo material ou as circunstâncias da vida quotidiana, mas sim a verdade última da existência – aquilo que transcende a ilusão dos sentidos e do ego.
O Silêncio Interior como Caminho
Para ouvir "A Voz do Silêncio", é necessário aprender a acalmar a mente. Isso não significa parar de pensar, mas sim desenvolver uma relação diferente com os pensamentos. Em vez de nos identificarmos automaticamente com eles, podemos observá-los com distância e discernir quais realmente servem ao nosso crescimento.
Quem quiser ouvir a voz de Nada, o Som sem som, e compreendê-la, terá de aprender a natureza do Dharana.
Mais do que concentração, neste contexto Dharana representa um estado de profundo silêncio interior, no qual a mente se aquieta e se torna serena. A voz do silêncio não é um som, mas sim uma perceção.
Para escutar a voz do silêncio, é necessário cultivar o silêncio interior. Para criar esse estado:
Torne-se indiferente aos objetos da perceção.
Procure o Raja (Rei) dos sentidos, aquele que gera pensamentos e desperta a ilusão.
Observe a entidade que em si percebe os sentidos, aquele que pensa.
A ideia central é que nós estamos além desta entidade.
A Mente é a grande assassina do Real. Que a pessoa discípula mate a assassina.
A linguagem da A Voz do Silêncio é metafórica – menciona "destruir" e "matar" –, mas o objetivo é criar um impacto emocional. Não se trata de eliminar a mente como ferramenta no quotidiano, mas sim de transcender a ilusão de que somos unicamente quem pensa. O caminho espiritual convida-nos a ir além do pensador, libertando-nos das amarras do ego e da identificação com os pensamentos.
Reflexão para o Dia a Dia
Quantas vezes no seu dia percebe que a sua mente está a correr sem direção?
Que estratégias utiliza para cultivar mais presença e silêncio interior?
Como pode aplicar estes ensinamentos na sua rotina?
Nesta caminhada, a prática contínua do silêncio interior torna-se um portal para uma compreensão mais profunda de quem realmente somos.
Bibliografia
Blavatsky, H.P. (1992). The voice of the silence translated and annotated by H. P. Blavatsky. Quest Books – Theosophical Publishing House.
Blavatsky, H.P. (2012). A Voz do Silêncio. Marcador Editora [Tradução de Fernando Pessoa]
Blavatsky, H.P. (2022). Glossário Teosófico - A versão original e póstuma de 1892, editada por George Mead. CLUC - Centro Lusitano de Unificação Cultural. [Tradução de Maria Paula Lourinho]
G. de Purucker (ed.) (1999). Encyclopedic Theosophical Glossary. Theosophical University Press.
Texto revisto com OpenAI: ChatGPT [Software]. https://openai.com
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