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Liderar pelo Exemplo - Reflexão sobre o Capítulo 17 do Dao De Jing

  • Foto do escritor: Raquel Silva
    Raquel Silva
  • 15 de mar.
  • 4 min de leitura

O capítulo 17 do Dao De Jing trata da relação entre governantes (ou líderes) e aqueles que os seguem. A ideia central do texto é que a liderança mais eficaz e elevada é aquela que quase não é percebida – um líder sábio age de maneira discreta e permite que as pessoas sintam que foram elas mesmas que realizaram o que foi feito.


O mestre mais elevado não é conhecido por outros.

O que se segue tem seguidores que o amam e louvam.

O seguinte tem seguidores que o temem.

O mestre menos importante tem seguidores que o desprezam.

Aquele que não confia

será considerado indigno de confiança.

O mestre mais elevado age de maneira descontraída.

Ele escolhe as palavras com cuidado

e não as desperdiça.

Quando realiza coisas

os seus seguidores pensam que fizeram tudo sozinhos.


Diferentes níveis de liderança

O texto descreve quatro tipos de líderes:

- O mais elevado é aquele que nem sequer é notado, porque a sua influência é tão natural que parece inexistente.

- O segundo nível envolve um líder amado e louvado.

- O terceiro nível é aquele que governa pelo medo.

- O pior tipo de líder é desprezado.


Isto reflete uma hierarquia de liderança que pode ser aplicada tanto no governo quanto em contextos pessoais, empresariais ou terapêuticos.

A tradição taoísta fala em ser invisível para o mundo, o que faz parte de ser humilde e não desejar chamar a atenção para si mesmo. O Velho Mestre ensina que os mestres de nível mais elevado utilizam o próprio exemplo — a forma como vivem e respondem aos desafios da vida — de maneira tão harmoniosa que as pessoas não percebem que estão a ensinar.


Muitos grupos religiosos, por outro lado, controlam os seguidores por meio do medo. As pessoas receiam ser punidas – ir para o inferno, reencarnar em um nível inferior, vivenciar um karma ruim ou sofrer má sorte. Assim, vivem de maneira “virtuosa” apenas para escapar da punição e do sofrimento. Contudo, essa não é a verdadeira libertação espiritual, pois o medo não gera uma transformação genuína, apenas conformidade.


A confiança como base

A frase "Aquele que não confia será considerado indigno de confiança" sugere que a confiança deve ser uma via de mão dupla. Um líder que desconfia constantemente do seu povo ou equipe pode acabar por ser visto como indigno de confiança, pois cria um ambiente de incerteza e medo. O verdadeiro mestre confia na natureza das coisas e permite que os outros encontrem seu próprio caminho.


Liderança natural e não impositiva

O trecho "O mestre mais elevado age de maneira descontraída. Ele escolhe as palavras com cuidado e não as desperdiça." sugere que a verdadeira liderança não se impõe, mas flui naturalmente. Esta postura alinha-se com o conceito taoísta de wu wei (não-ação ou ação espontânea), em que as coisas são conduzidas de forma tão harmoniosa que não parecem forçadas.

Quando realizam coisas, estes mestres organizam as circunstâncias de modo engenhoso, permitindo que os discípulos pensem que foram eles que as realizaram. Outras vezes, fazem parecer que os acontecimentos se desenrolam espontaneamente, sem interferência visível. Isso reforça o senso de autonomia e realização genuína.


O poder da autonomia

A última linha, "Quando realiza coisas, os seus seguidores pensam que fizeram tudo sozinhos.", remete à ideia de que um bom líder permite que os outros floresçam e se empoderem. Os dois últimos caracteres (自然 Ziran) significam "por si mesmos" ou "espontaneamente" e são um princípio central do Taoismo. Este conceito exprime a maneira como o Dao evolui naturalmente, sem imposição ou resistência.


No contexto terapêutico, por exemplo, um bom terapeuta não se coloca como o grande agente de mudança, mas sim como alguém que cria as condições para que o próprio cliente descubra as suas respostas. Da mesma forma, em qualquer posição de liderança, o verdadeiro mestre não conduz com força, mas sim com presença silenciosa e sábia.


A jornada de aprendizado contínuo

Qualquer um de nós pode tornar-se um mestre. Não precisamos de treino especial nem do certificado de uma instituição de ensino superior para influenciar e ensinar os outros. Podemos ser uma boa influência simplesmente pela maneira como vivemos: respondendo aos desafios com graça, seguindo as nossas práticas de autoaperfeiçoamento, sendo pessoas pacientes e amorosas.


Nesse mesmo espírito, todos os que encontramos ou aqueles com quem entramos em contacto podem ser mestres para nós. A vida está repleta de oportunidades de crescimento, aprendizagem e recordação de lições essenciais. No entanto, para que possamos receber ensinamentos, precisamos cultivar um estado de receptividade. Se estivermos tomados pelo ego, por opiniões rígidas ou pelo medo, nunca estaremos vazios o suficiente para absorver novas lições.


Prática para desenvolver a receptividade à aprendizagem

Uma prática simples para cultivar esse estado de abertura é o exercício da mente do aprendiz:

  1. Comece o dia com uma pergunta: Ao acordar, pergunte-se: "O que posso aprender hoje?" ou "Que ensinamento posso receber das pessoas e circunstâncias à minha volta?"

  2. Escuta atenta: Durante interações com outras pessoas, pratique escutar sem interromper ou julgar. Apenas absorva o que está a ser dito.

  3. Observar sem interpretar: Escolha um momento do dia para observar algo – uma cena na rua, a natureza ou uma conversa – sem projetar julgamentos ou significados. Apenas testemunhe.

  4. Reflexão noturna: Antes de dormir, registe uma coisa nova que aprendeu, seja grande ou pequena. Pode ser algo sobre o mundo, sobre si mesmo ou sobre outra pessoa.

Com o tempo, esta prática ajuda a dissolver barreiras internas que nos impedem de aprender e crescer de forma natural e fluida, em sintonia com o Dao.


A verdadeira sabedoria não está em acumular conhecimento, mas em permitir que ele nos transforme de maneira fluida e espontânea, tal como ensina o Dao.


(Pode assistir áudio desta publicação aqui!)


Bibliografia

Lao Tse (2010). Tao Te King - O livro do Caminho e do Bom Caminhar. Relógio D'Água Editores [Tradução e Comentários de António Miguel de Campos].

Towler, S. (2016). Practicing the Tao Te Ching - 81 Steps in the Way. Sounds True.

Towler, S. (2019). Tao-Te King : uma jornada para o caminho perfeito : lições práticas sobre o taoismo. Editora Pensamento-Cultrix [prefácio de Chungliang Al Huang; tradução Claudia Gerpe Duarte e­ Eduardo Gerpe Duarte].

Texto revisto com OpenAI: ChatGPT [Software]. https://openai.com

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