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The Substance – Um espelho para a identidade na sociedade contemporânea

  • Foto do escritor: Raquel Silva
    Raquel Silva
  • 25 de fev.
  • 5 min de leitura

A nova obra de Coralie Fargeat, The Substance, tem provocado reações extremas. Para alguns, é um filme de terror corporal grotesco e desconfortável; para outros, é uma das críticas sociais mais viscerais dos últimos tempos. Mas, para além do choque visual e da estética perturbadora, o filme traz reflexões profundas sobre identidade, validação e a impossibilidade de viver apenas pelo reflexo do olhar dos outros.


A Superfície vs. A Profundidade

À primeira vista, The Substance parece um filme sobre as pressões estéticas impostas às mulheres. A história de Elisabeth Sparkle, uma atriz descartada pela indústria devido à idade, reflete a obsessão cultural pela juventude e beleza. No entanto, acredito que a narrativa vai muito além disso. O verdadeiro terror do filme não está apenas na degradação do corpo, mas na fragmentação da identidade. Elisabeth não sabe quem é sem a validação do público, e essa dependência leva-a a uma espiral de autodestruição.


A Importância dos Espaços e da Banda Sonora

A atmosfera do filme é fortemente influenciada pelos seus cenários minimalistas e pela banda sonora. Um corredor que antecipa uma trajetória linear e fechada em si mesma. Um apartamento onde se destaca um retrato gigante de Elisabeth e uma janela panorâmica com vista para o seu outdoor - como se não existisse um filtro, uma fronteira entre o que é dentro e fora, entre o eu e o externo.


Uma casa de banho branca e vazia, quase clínica, um não-lugar onde Elisabeth enfrenta o seu reflexo e se confronta com a sua própria dissolução. O compartimento secreto, que não é apenas um esconderijo físico, antes é uma representação do apagamento daquilo que não se quer lidar - se não é visto, não existe, logo não é um problema...


Cada ambiente parece projetar o seu estado psicológico, intensificando a angústia e a desconexão com a realidade. Além disso, a banda sonora desempenha um papel crucial na construção da tensão. O uso de uma batida rítmica, quase mecânica, evoca a passagem incontrolável do tempo e a pressão que Elisabeth sente para manter a sua juventude e relevância. Ocasionalmente, sons dissonantes e momentos de ruído quebram essa cadência, traduzindo em áudio a ansiedade crescente da protagonista. Este design sonoro faz com que o espectador se sinta imerso no pesadelo de Elisabeth, amplificando a experiência emocional e psicológica do filme.



A Dualidade e a Transformação

O filme funciona como uma metáfora psicológica. Se olharmos para a história sob a ótica da psicanálise, cada personagem pode representar um aspecto da psique humana:

  • Elisabeth como Ego – Tentando equilibrar as pressões externas e os desejos internos.

  • Sue como Ideal do Eu – A versão jovem e perfeita que Elisabeth acredita precisar ser para ter valor.

  • Harvey como Superego – A voz da sociedade, implacável e exigente, que dita o que é aceitável.

  • O "monstro" como Id – A sombra reprimida que, quando ignorada, se torna uma força destrutiva.


O espelho e os espaços minimalistas do filme reforçam esta fragmentação. Elisabeth nunca se vê como um ser uno, apenas através de reflexos – na TV, na publicidade, na versão mais jovem de si mesma. A obsessão pela imagem externa impede-a de se reconhecer sem um público a validar a sua existência.


Como não se reconhece como um indivíduo, Elisabeth é incapaz de se relacionar e estabelecer conexões autênticas, transmitindo uma sensação de profundo isolamento e solidão.


O Corpo Como Campo de Batalha

No filme, o corpo de Elisabeth torna-se um campo de batalha entre a aceitação e a rejeição, entre a identidade verdadeira e a imagem projetada. As transformações físicas grotescas representam a violência simbólica que a sociedade exerce sobre os corpos, especialmente os femininos. A destruição do corpo não é apenas física, mas também psicológica e espiritual – um reflexo da desconexão entre o ser e a sua essência.


No caminho da espiritualidade, muitas tradições ensinam que a paz interior vem da aceitação do corpo e da sua impermanência, em vez da tentativa de o controlar obsessivamente. No entanto, a cultura ocidental moderna impulsiona-nos na direção oposta – para a eterna insatisfação e manipulação da imagem exterior.


Se a verdadeira libertação de Elisabeth tivesse ocorrido, talvez tivesse passado pela reconciliação com o seu corpo como ele era, e não pela busca de uma versão melhorada e artificial. Esta reflexão leva-nos a questionar: até que ponto a nossa obsessão com a aparência e a validação externa nos afasta da nossa verdadeira essência?


A Sociedade no Ponto de Não Retorno?

A tragédia do filme não está apenas na transformação física de Elisabeth, mas na reação da sociedade. Quando ela finalmente se revela como aquilo em que se tornou, a plateia rejeita-a. É aqui que o filme nos confronta com uma verdade dolorosa: a sociedade impõe padrões impossíveis e, quando alguém é destruído por eles, finge não ter responsabilidade.


Esta reflexão não se aplica apenas às mulheres. Sim, historicamente, somos as maiores vítimas da ditadura da aparência e da aceitação social, mas hoje esta pressão estende-se a todos os humanos - beleza, juventude e performance.


O filme espelha também esta crise identitária da sociedade como um todo. Sabemos que as antigas regras de género já não fazem sentido, mas ainda não conseguimos criar algo novo que funcione de forma saudável.

  • As mulheres questionam e tentam resgatar o valor do feminino para além das normas patriarcais, mas ainda enfrentam contradições e resistência.

  • Os homens, antes apenas pressionados pelo papel de provedores e guerreiros, agora também sentem uma carga crescente em relação à aparência, ao sucesso e à performance emocional.

  • Como seres humanos, cada vez mais conscientes da diversidade, muito além do sistema binário, percebemo-nos num espaço de desconstrução e reconstrução, mas sem um modelo claro para seguir.


O grande tema do filme – a identidade construída no reflexo dos outros – é uma das maiores questões da cultura contemporânea. Por isso, Elisabeth pode representar qualquer pessoa que tenha construído a sua identidade e autoestima na validação externa e que, ao perder essa validação, deixa de saber quem é. Antes, esse reflexo passava muito pela TV, o cinema, as revistas. Hoje, são as redes sociais, que são ainda mais perigosas porque não têm filtro, nem limites, nem pausas. Cada vez mais sentimos que precisamos de ser “visíveis” para existir e construímo-nos sob a constante avaliação de gostos, seguidores e comparações. A busca pela validação externa transformou-se numa espécie de vício, onde o próprio eu se dilui e se perde na performance para os outros.


Há Esperança?

O filme deixa-nos uma pista sobre a saída deste ciclo: as instruções da própria "substância". Aliás, o que é a substância? A substância pode ser qualquer coisa, uma nova tecnologia ou uma velha tradição oculta, a substância aparece como a solução para os nossos medos mais profundos. Tem o potencial de ser a cura, ou o veneno, tudo depende do uso que lhe dermos.


"Vocês são uma" e "Respeitar o equilíbrio": Este aviso, ignorado por Elisabeth/Sue, representa aquilo que a poderia ter salvo. E talvez esta seja a grande lição para todos nós, seres humanos. Sim, porque nesta etapa do jogo, todos e todas, de alguma forma já nos submetemos à "substância"!


Acredito, que se conseguirmos atravessar este momento de transição sem nos destruirmos, podemos construir uma sociedade mais equilibrada, onde a identidade não seja definida pelo olhar externo, mas sim por um autoconhecimento genuíno. Para isso, a solução não está na rejeição de partes de nós mesmos para nos encaixarmos num molde externo, mas na aceitação da nossa totalidade – com todas as suas fases, imperfeições e transformações. E o mesmo se aplica à humanidade - Somos Um (transcender a ilusão da separação) & Respeitar o Equilíbrio (ou seguir o caminho do meio).


A pergunta que fica é:  Será que ainda temos tempo para encontrar esse equilíbrio, ou já estamos a tornar-nos irreconhecíveis para nós mesmos?



Texto revisto com OpenAI: ChatGPT [https://openai.com]

Imagem criada com inteligência artificial generativa [ideogram.ia]

 
 
 

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